Fies vai priorizar alunos que estudam em cidades com baixo IDHM


Denilson Alves Costa, 26 anos, é o primeiro da família a cursar uma faculdade. Está no 4º período de fisioterapia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Filho de uma empregada doméstica e um pedreiro, o atendente de call center, que ganha um salário mínimo por mês, rala para pagar metade da mensalidade, no valor de R$ 591,12. A outra metade é custeada por uma bolsa cedida pela instituição. Denilson espera conseguir o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), do governo federal, que a partir de 2016 deixa de priorizar as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Pelo novo critério, terão preferência na distribuição das vagas as cidades com menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), independentemente da região que estão situadas.
Cursos nas áreas de formação de professores (licenciaturas, pedagogia e normal superior), saúde e engenharias continuam na lista de prioritários e vão responder por 70% das vagas do fundo no próximo ano. A portaria que regulamenta o Fies em 2016 foi publicada semana passada, no Diário Oficial da União, pelo Ministério da Educação. Além do IDHM, para a distribuição de vagas será considerada a demanda por educação superior, calculada a partir de dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a demanda por financiamento estudantil, calculada a partir de dados do Fies no ano de 2015 e a disponibilidade orçamentária do fundo.
“Cursar fisioterapia é um sonho. Recentemente pensei em desistir porque ficou difícil pagar a mensalidade, mesmo tendo bolsa de 50%. Recebo um salário mínimo, mas com descontos ganho R$ 660 por mês. Só consigo pagar a faculdade porque um tio meu ajuda com R$ 200. Do que sobra no mês me viro para custear passagem, lanche, xerox e outras despesas”, afirma Denilson. “Vou tentar o Fies. Peço a Deus que me ajude e eu consiga bolsa dos outros 50%. Tomara que com as novas regras não haja prejuízo para os estudantes do Nordeste”, comenta o rapaz, morador dos Bultrins, em Olinda, no Grande Recife.
Segundo a portaria, do total de vagas para cada microrregião, 45% destinam-se a cursos da área de saúde, 35% aos de engenharia e 20% aos de licenciatura, pedagogia e normal superior. Das graduações da área de saúde, 35% das vagas são para medicina. Das vagas para as licenciaturas, 25% serão destinados aos cursos de física, química e língua estrangeira; 25% aos de sociologia, artes e filosofia; 15% aos de geografia, história e educação física; 15% aos de matemática, biologia e português; 15% aos de pedagogia e normal superior e 5% às demais licenciaturas.
Poderá se inscrever no processo seletivo do Fies o estudante que tenha participado do Enem a partir da edição de 2010 e obtido média igual ou superior a 450 pontos e nota na redação maior que zero. É preciso também ter renda familiar mensal bruta por pessoa de até dois salários mínimos e meio. Ainda não foram definidas vagas por instituição e locais de oferta, uma vez que as faculdades interessadas em participar têm até segunda-feira (21) para assinar o termo de adesão.
“Acabei de terminal o normal médio (antigo magistério). Adoraria ingressar num curso de pedagogia. Sempre quis ser professora, mas tive que trabalhar cedo para criar meu filho. Hoje dependo financeiramente dele. Fiz o Enem este ano já pensando no Fies. Acho ótimo que o governo priorize os cursos de formação de professores”, diz Maria Menina Araújo, 58, que estudou na Escola Estadual Silvio Rabelo, localizada em Santo Amaro, área central do Recife.